O espelho mágico do
pequeno Tobias
I
Tobias é um miúdo dos
seus 6 anos de idade que tem um espelho mágico. Olhando para ele pode reparar
que tem uma, duas, três, quatro, sardas bem perto da ponta do nariz. Tem dois
dentes desdentados sob a forma de dois buraquinhos na boca que o fazem sorrir
apenas pela metade. Apesar disso é um miúdo normal, cujo passatempo preferido é
brincar com o seu gato José António, nome dado em memória do seu falecido avô,
que foi repórter no ultramar, e cuja amizade o ligará ao rapazito pelo
infinito. Uma amizade que ele relembra pelas brincadeiras que tinha com o
rapaz, brincando aos piratas, em que o Avô simulava uma perna de pau e gritava:
- Oh oh oh! Sou o
pirata das Caraíbas!! Brincadeira em que colocava uma cabeleira postiça preta
comprida bem amarfanhada na cabeça, e rímel nos olhos para ficar idêntico a um
verdadeiro pirata. Com essa figura invulgar, assustava o garoto mas ao mesmo
tempo fazia-o sorrir, e dar verdadeiras gargalhadas de alegria. Nesses
momentos, a mãe vinha em seu auxilio gritando:
- Pai, não assuste o
menino!
Mas o Avô não ligava nenhuma
e brincava com a criança ao mesmo teatro, em que ele trocava de identidade com
o verdadeiro pirata.
- Uma, duas, três,
quatro sardas. Pensava a criança enquanto se olhava ao espelho. Um espelho
maravilhoso, com uma moldura de um dourado brilhante à volta, semelhante aos
espelhos que os reis utilizavam na antiguidade. Aquele espelho era muito
antigo. Violeta, a mãe da criança tinha-o comprado numa loja de antiguidades,
apenas pela metade do preço de venda e afeiçoara-se a ele, colocando-o na casa
de banho principal. Quando o comprou, teve o discernimento de regatear o preço
com o vendedor que pedia mais dois terços do seu preço de venda, mas conseguiu
levar pela metade dizendo que estávamos em altura de crise.
- Estamos em crise ó
senhor! Venda-o por metade do preço que eu levo-o.
- Minha senhora, este espelho
é de um cariz especial! De longa data! Pertencia a um rei como pode ver pelo
detalhe da moldura em dourado brilhante. Não o posso vender a metade do preço.
Mas Violeta determinada
a levar o espelho lá o convenceu a vender pela metade.
Assim, Tobias, alegre
pelo espelho que considerava mágico, passava as suas tardes a olhar para ele,
contando as sardas que tinha junto a ponta do nariz, e os dentes que lhe
começavam a aflorar na boca. Por isso ainda não tinha o sorriso completo,
apenas sorrindo pela metade.
Por outro lado, o
espelho de um brilho contagiante parecia contar histórias da antiguidade, e
Tobias quando olhava para ele parecia imergir num mundo de fantasia que o fazia
incidir na sua própria imaginação.
- Mãe! Este espelho é
tão bonito! Foram as suas primeiras palavras quando a mãe levou o espelho a
primeira vez para casa. E de facto assim o era, brilhante e luzidio, como um
espelho deve ser, com contornos redondos e floreados de talha dourada,
semelhante a ouro.
E isso fazia-o sonhar,
em como um espelho tão bonito era agora a sua principal companhia de
brincadeiras.
- Sabes Tobias. Este
espelho é mágico! Dizia-lhe a mãe. – Pertenceu a um rei que era muito
barrigudo, e todas as manhas quando acordava olhava para o espelho e perguntava
se existia neste mundo algum rei mais bondoso do que ele.
- Mas mãe, essa não é a
história da Branca de Neve? Perguntava o rapazito perspicaz enquanto a mãe lhe
contava a história.
- É o mesmo espelho.
Respondia-lhe a mãe olhando-o com carinho. – Pertenceu à bruxa má, mas depois
com o tempo, passou para a posse deste rei.
E a criança imaginava
as brincadeiras que o Rei devia ter com o espelho, e as perguntas que lhe devia
fazer, uma vez que comunicava com ele.
- Espelho existe um
rapazito mais traquina do que eu? Perguntava o miúdo olhando para o espelho com
o seu olhar brilhante. Este parecendo responder-lhe exclamava.
- Não! O Tobias é o
mais traquina dos meninos!
Ele ficava delirante
imaginando diálogos com o espelho. Nesses momentos afagava o pêlo terno do José
António, o seu gato que sempre lhe acompanhava nessas brincadeiras.
- Miauuu! Exclamava o
gato quando Tobias lhe metia a mão ao pelo. E ronronava com o ronronar que só
os gatos têm.
Num desses dias,
enquanto olhava o seu reflexo no espelho, imerso na casa de banho de azulejos
azuis, com um foco de luz em cima no tecto que iluminava aquele sítio em focos
incandescentes, Tobias vê surgir ao longe uma figura que se vai aproximando
dele. O rapaz incrédulo olha para trás e não vê ninguém. Apenas o seu próprio
corpo. Mas à medida que se vai aproximando a figura fica de frente para ele
dentro do espelho, e o reflexo do rapaz desaparece para dar lugar a essa
estranha figura.
- Quem és tu? Perguntou
a criança assustada.
Por dentro do espelho
via-se um mundo mágico, com uma floresta em redor, com a estranha personagem
que tinha a cabeça de mocho, mas o corpo de um humano.
- Eu? Estás a perguntar
a mim? Questionou a estranha personagem que se dirigia à criança com a sua
cabeça de mocho e olhar penetrante, que pareciam duas candeias de luz dirigidas
ao miúdo.
- Sim! Estou a falar
contigo! Responde a criança.
- Óóó ! Eu sou o
Crinch! Muito prazer! E abanando a cabeça de penas, a personagem faz deslizar o
seu corpo ainda para mais perto da criança que ainda espantada exclama.
- Crinch?! Que raio de
nome é esse?!
O estranho mocho
diz-lhe que foi o nome que a sua mãe Dona Melvim adoptou para ele quando era
pequeno, e que lá no mundo deles quer dizer, “ aquele que possui a sabedoria ”.
- E o que estás ai a
fazer?! Exclama novamente Tobias, que ainda incrédulo, não compreendia como é
que estranha criatura tinha aparecido no reflexo do espelho.
A sua volta uma densa
floresta aparecia nos contornos do espelho, e a luz do sol luzidia em sombras
nos beirais do caminho. Um som de pássaros rodeava aquela atmosfera cintilante,
e determinado Crinch afirma.
- Estou aqui porque
venho à procura do espelho!
- Á procura do espelho?
Pergunta o rapaz!
- Sim! O Rei está muito
zangado! Ora essa que está! Porque lhe roubaram o espelho mágico! E agora quer
reunir os animais da floresta para que lhe digam onde está o seu espelho.
E abanando a cabeça com
as suas penas, parecia olhar para trás, a ver se alguém aparecia.
- Mas este espelho é
nosso. A mama comprou numa loja de antiguidades. Respondeu Tobias que parecia
imerso nesse estranho mundo.
- Olha, não sei. Só sei
que o Rei está muito zangado! Eu fico com medo. Ele quer interrogar todos os
animais da floresta para ver se algum sabe de alguma coisa.
Tobias olha em seu
redor, e abre ligeiramente a porta da casa de banho a ver se alguém escutava a
conversa, e não vendo ninguém exclama para o Crinch.
- E ele está mesmo muito
zangado?
- Sim, está! E com
razão. Que esse espelho é mágico!
- Eu sempre suspeitei
que ele era mágico. Era cá um felling que eu tinha! Exclama o garoto
dirigindo-se ao mocho, que abanava a sua cabeça, e as suas asas de penas
castanhas.
De repente, Tobias ouve
a sua mãe chamar por ele. Chamava-o para que ele fosse lanchar, e Tobias
ouvindo a sua mãe a chamar por ele diz ao pequeno mocho.
- Olha, tenho de ir, a
minha mãe esta a chamar por mim.
E Crinch ouvindo-o
pergunta.
- E qual é mesmo o teu
nome.
- Tobias! O meu nome é
Tobias. Responde a criança.
- Que raio de nome é
esse? Pergunta o mocho espantado, com o mesmo ar com que Tobias tinha
perguntado o seu nome.
- É o nome que a minha
mãe me deu!
E o mocho alegre
abanando as penas da sua cauda regressa para traz pelo mesmo caminho de terra
que tinha dar ao espelho exclamando.
- O rei vai ficar muito
zangado quando souber que o espelho esta contigo!
- Mas vais lhe dizer?
Pergunta o garoto gritando na sua direcção que ia desaparecendo de vista.
Mas o mocho nada disse
e o rapaz foi então lanchar. Um belo lanche que a sua mãe tinha comprado no
supermercado Pingo Doce, com tostas de recheio de morango, e leite
achocolatado.
II
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