Ela abriu a gaveta e as memórias vieram inesperadamente ao seu encontro.
Recordou-se do seu pai e como tudo aquilo tinha sucedido. A sua morte
inesperada havia-lhe perturbado a vida, e agora
órfã de pai e de mãe imiscuía de uma terna tristeza. A partir daquele
momento tudo tinha acabado na sua vida. Uma lenta solidão sucumbia-lhe
os sentidos fazendo-a navegar num mar morto. O mesmo mar onde estava o
seu coração. Assim, com pouco o que havia a recordar
desse trágico evento, sentia que a vida lhe fugia. Quanto mais fugia
mais se imergia na contemplação a um Deus que parecia não existir. O pai
morrera de cancro na garganta, fatal pelos cigarros que fumava.
Tinha-lhe sido diagnosticado tarde de mais, e sucumbira
poucos meses após esse anúncio por parte do médico. Com o tempo que lhe
restou para viver com ele, Malena fez uma viagem ao interior de si
mesma. Tentando compreender como tudo aquilo havia sucedido. Mas era
tarde de mais para retirar dali quando ilação quanto
ao seu destino. Agora deambulava sozinha no terreno da desolação, imersa
nos seus pensamentos mórbidos. Que tragédia se havia instalado na sua
vida. Uma tragédia tão imensa que mais parecia um pesadelo. A sua vida
transformara-se num sonho maldito, numa penumbra
sarcaz de vida em que lhe apenas restava caminhar pela solidão. Assim
dedicou-se à escrita como forma de terapia para a sua solidão. Porque a
solidão apertava-lhe o peito. Naquele instante em que transmitia para o
papel todo o seu fatalismo, ao longo do tempo
ia-se libertando desses fantasmas, e a memória de seu pai ia-se
desvanecendo.
A cebola irritou-lhe profundamente os olhos.
Estava a cortá-la quando as lágrimas lhe surgiram nos olhos. Apesar dos
últimos meses de profunda consternação, a memória de seu pai continuava
lúcida.
Recordava-se quando ele se aproximava de si e lhe soletrava suavemente
ao ouvido. – Minha filha, o quanto gosto de ti. Ao vê-lo na cama deitado
com o cancro a corroer-lhe cada pedaço das suas células deixavam-na
abatida. Com o tempo foi-se libertando dessa
recordação, e era apenas a sua voz ténue que ela ouvia no seu coração.
Uma voz que lhe anunciava que estaria tudo bem, e que em breve estariam
os dois juntos. Porem, era tal o amor que a unia a seu pai que chegou a
pensar em suicídio. Fá-lo-ia num ato transtornado,
com recurso a um frasco de remédio e uma garrafa de whisky. Havia de dar
resultado, pensava. Pelo menos assim, com a morte ficaria novamente
perto dele, onde quer que ele estivesse. Porem, esses pensamentos que
lhe afloravam na pele, deixara de fazer sentido
com o tempo. O cheiro a morte que sentia quando as lágrimas se soltavam,
deixou de fazer sentido. Pois o seu pai haveria de gostar que ela
estivesse bem. Assim, passo a passo, foi-se desprendendo do seu drama
familiar, e começou lentamente a surgir sobre si
uma nova consciência. Mais natural de acordo com a sua vida. Começou a
praticar yoga e isso fez-lhe ver outro sentido para a vida. Como se
fosse uma luz ao fundo do túnel. Assim, com recurso a essa prática
milenar começou a deparar-se com outro sentido para
a vida. Mais alegre e otimista, que lhe fez ver o mundo com outros
olhos. Os olhos de uma nova consciência.
"- Não, não te deixarei passar! "
"Tens de compreender que a vida prossegue! "Eram as palavras da sua
professora de yoga, que ciente do drama de Malena e da morte prematura
de seu pai vítima
de cancro, tentava que ela compreendesse que apesar do corpo morrer, a
alma existiria para além da vida. E assim, com essa perceção, começou a
ter uma nova visão das coisas. Mais otimista, que lhe levou todos os
fantasmas que lhe amedrontavam á noite nos seus
pesadelos. Num deles em que via o seu pai gritar pelo seu nome, ansiando
pela sua companhia, e dizendo que nunca na vida ela haveria de passar
por um sofrimento tão grande como aquele. Nessas noites, em que acordava
imersa nos seus gritos, Malena via-se confrontada
com o desconhecido, mas á medida que foi controlando a sua respiração,
eles tornaram-se menos frequentes. Agora o que se recordava, era com uma
ternura imensa de seu pai, que naqueles últimos meses lhe havia
transmitido a esperança de uma nova vida. Em que
a filha seria muito feliz.
As suas lembranças ficaram para sempre no seu coração. Passado uns meses, e com a prática de yoga, com uma nova visão de tudo, da vida inclusive, Malena começou a contemplar o cântico dos pássaros, que anteriormente lhe passavam despercebidos. O desabrochar das flores e o perfume que elas exalavam para sua contemplação. E começou a usufruir além de escrever um diário, do prazer da poesia, quando pela sua visão escrevia sobre temas relacionados com o amor. E essas experiências começaram a enriquecer-lhe a vida.
As suas lembranças ficaram para sempre no seu coração. Passado uns meses, e com a prática de yoga, com uma nova visão de tudo, da vida inclusive, Malena começou a contemplar o cântico dos pássaros, que anteriormente lhe passavam despercebidos. O desabrochar das flores e o perfume que elas exalavam para sua contemplação. E começou a usufruir além de escrever um diário, do prazer da poesia, quando pela sua visão escrevia sobre temas relacionados com o amor. E essas experiências começaram a enriquecer-lhe a vida.
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