Quando
a luz reapareceu, não foi vaidade ou luxúria que eu senti, mas sim amor ao reencontrar
os teus olhos.
Nesse
dia à noite, cujo escuro se perpetuava no horizonte, e cortejos de chuva
surgiam imersos pelo vento abanando os candeeiros de rua cuja luz se fluía em
bailados, reencontrei-te nesse programa de televisão que falava de gente da nossa
terra que havia emigrado à procura dos seus sonhos.
Falava
da esperança da viagem. Da procura do sentido para a vida. Sendo tu a própria
viagem, em busca da tua essência, ao retornares ao teu interior, descobri-la na
fonte do teu íntimo.
A
música era o teu destino.
O Mundo
a eterna melodia.
Que os
pássaros cantam no céu quando migram em direcção ao azul, e cujo espaço se faz
cor abrigando o seu globo.
Cuja
partida era o propósito em serem felizes. Dividindo-se nessas duas paragens,
apesar de sermos todos da mesma terra que é o mundo.
Por
isso, apesar de longe, podemos estar tão perto, compreendendo que para tal é
apenas necessário que nos abrace esse sentido da vida que só nós podemos
sentir.
Tinhas partido
muito cedo para a Índia, repleta dos teus sonhos. O principal era sentir-te
realizada. A felicidade seria a sincronia com o que de elevado a tua alma
ansiava. Sendo a tua eterna paixão a música, compunhas individualmente para à
noite actuares em alguns bares da cidade. Durante o dia trabalhavas numa
instituição de apoio social que prestava auxílio pelos bairros degradados da
cidade. Face à desigualdade social, dizias que a maior retribuição era o
sorriso daqueles a quem a vida sorria de forma mais humilde, e que face às
adversidades da vida, não deixavam de acreditar num destino radioso.
Naquele
momento, quando a luz retomou a nossa casa, e quando o escuro do céu parecia
serenar a sua ameaça, os trovões insultaram em sua investida, declinando a
terra da sua criação.
Sonhos
roubados de nuvens cinzentas.
Sombras
doentias que vivem da destruição.
Foram os teus olhos que me
apaixonaram. Olhos castanhos cujo brilho simbolizava o mistério, e cujas
pestanas os decoravam em sua beleza, ao reflexo da alma suscitando o feitiço.
Foi a
coincidência do reencontro após imensos séculos em que os nossos espíritos se
haviam separado.
Assim
dizia o meu íntimo.
Duas
almas cujo amor é tão forte que do seu encontro se faz o mundo.
Da vida
o permitir da forma pura, abraçariam todo o universo.
Dele se
fariam histórias para todo o sempre, perpetuando-se no infinito tal como as
grandes histórias de amor.
Desse
abraço, e por tudo aquilo que significa, compreendi que o que importa é o
quanto amas.
Mesmo
que por vezes estejamos frios por fora em nossos traços distantes e solitários,
mas pontos para nos entregarmos e nos tornarmos mais humanos.
Julgo
que a vida nos torna frios para resistir ao ciclo que nos é interposto pela
sociedade.
Mas Tu,
nesses olhos que revelam imenso encanto e admiração pelo ser humano, pode
entender que no mundo também existe quem se preocupe com os outros.
Existe
sempre alguém que se preocupa connosco.
A luz dos relâmpagos ao longe
invadiam a casa e a chuva continuava a cair.
Das
tuas palavras pude incutir algo de diferente.
Partilhando
da mesma sensibilidade, de que é feita a alma do artista, que só ele sabe
quantas chagas lhe suscitam a criação, na dor do seu plexo e na poesia da sua
alma.
Fluindo
nele a vida como raios de melodia que a tua voz pode admirar. Deixa-me criar
para que possas brilhar.
Linda
canção que brotou da tua alma, e em que depositavas os teus sonhos.
O teu
sorriso iluminou a minha vida. Dele compreendi que ao sorrir para a vida ela
retorna-nos como um espelho o que têm de melhor, mesmo que por vezes a
encaremos com nevoeiro que nos cerca os sentidos. Sendo desse nevoeiro que é
composta a nossa mágoa, que se torna amarga se dela não a exorcizarmos.
São poucas as palavras que te podem
descrever.
Tu a mais
bela poesia.
Sendo o
teu sorriso a mais bela melodia.
Todo o
seu significado é em teus lábios a ternura e o amor, e nas palavras o gesto de
apoio e da compaixão.
Faz-se
alma em minha alma.
Depreende-se
tal como uma folha ao vento, que nem a chuva consegue derrubar.
Eterna
escolha do destino, que se migra dentro de nós, e no qual depositamos eternas
esperanças.
Embora
por vezes vagas e inconsequentes, mas da mesma forma que os sonhos que nos
fazem caminhar.
Tornado
de admiração simples. Chuva que se perpetua na senda do sublime, e para o qual
o relâmpago é a luz do novo dia.
Num
mundo em que o perdão se perde nas palavras e é agora um gesto sem valor.
Sombras
na terra que trazem o seu significado ao mundo, e o conquistam pela sua
escuridão. Forte é a luz que surge no destino radioso e nele a vida sorri em
compaixão, quebrando esse nigredo.
Apaixonei-me
por ti.
Os teus
olhos são a procura do significado da vida.
O
alcance do sonho, apesar das dificuldades, por que vá-le lutar.
Nunca é
tarde de mais.
Nem no
último suspiro.
O dia
ao merecer o nosso sacrifício, por aquilo que achamos o correcto, se torna
único e diferente por ele suscitar a justa causa.
Tu que
te propuseste a ti mesma em ajudar os outros, na procura de um mundo melhor,
que inspiras com as tuas palavras e a tua música.
O teu
desejo em inspirar os outros a serem felizes.
Esse
contágio pelo bem, criando uma corrente de inspiração infinita que se repercute
pelo mundo. Evadindo-se das palavras para aqueles que te compreendem e te
abraçam.
Na tua
música e na tua generosidade pode entender que existia algo de especial.
No teu
olhar pode encontrar esse brilho.
Apesar
de todos sermos especiais, descobri a tua forma única e diferente, de qualquer
outro sentido.
Só tu o
compreendes.
Apenas
tu captas o sentido das palavras. Admiração por ti.
Na tua
humanidade sentis-te acolhida por esse povo que é a raiz da Índia pobre, cuja
cultura se vinca na sua diversidade.
O
estranho encanto que nós ocidentais ainda não compreendem.
Ao
sorrires criou-se a minha alma.
O teu
brilho reluziu a luz dos dias.
Vi a
vida nascer da noite escura em que o céu se zumbia em focos de cor viva que
relampejavam cortando o horizonte.
Cruzando
o espaço infinito.
O mundo
contou a sua história, da qual se fez as marés e a lua unirem nesse encanto.
Encanto
que revejo em ti quando a lua reflecte a tua palavra.
Simples
do eterno amor.
Compreendi
depois que a chuva partiu, que no enlace do mundo, as nossas vidas se haviam
reencontrado, embora tu nem eu nos apercebamos disso.
As
nossas almas existiriam para além deste tempo.
Era
esse o amor que nos ligaria pelo infinito.
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